quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Geraldo Vandré

Vi outro dia uma entrevista com Geraldo Vandré, após 37 anos de silêncio. Surgiu um homem nem amargurado, nem triste. Não ressentido, nem aí para nós, pobres mortais. Um homem seco que sepultou os sentimentos em algum lugar do passado. Que se recusa a cantar no Brasil mas canta na américa espanhola, como ele chama  a Argentina, o Uruguai, o Paraguai e outros.

 O que fez daquele talento que encantou um maracanã em 1968, repleto, cantando a música "Para Não dizer que Não falei de flores", uma música que todos entenderam que era um canto de guerra  ao momento que se impunha ao Brasil? Certo, foi preso, exilado e, segundo ele, ainda continua exilado.... O que significa entender que os problemas do Brasil não lhe dizem mais respeito. Prefere outros ares, outras culturas a cantar em  território pátrio. Toda a sua verve poética ele reserva para outras plagas. Não compreendemos essa atitude. Porque se o Brasil foi injusto com ele nós não o fomos. Se o Brasil o exilou nós choramos. E quando ele voltou, voltavam com ele nossas esperanças de ter uma voz que diria o que nosso coração sentia. Mas, não. Arredou-se, sumiu, não fez música por muito tempo e quando o fez não foi para nós.

E vê-lo tão caquético, morando sozinho numa dependência da Aeronáutica, fazendo música para a FAB e tocando e cantando  lá dentro mesmo, doeu no coração de quem viu. Aquele homem que gritava ao microfone, jovem, lindo "que esperar não é fazer, quem sabe faz a hora não espera acontecer", deixou de fazer e a hora passou para sempre. Quem sabe se ele tivesse cantado versos
teríamos em quem acreditar e  o seguido na tentativa de ver um Brasil diferente do que vemos.

Só temos a lamentar que um poeta daquela magnitude tenha se extinguido de forma tão desalentadora, sem tempo para despedidas, para nos deixar a lembrança de um ser  que gritou, berrou, amargurou-se e desencantou-se. Com a certeza absoluta de que estaríamos lá, cercando-o, cantando com ele, chorando com ele, mas jamais vivendo esse exilio que ele diz preferir. Autoexílio  não é para quem disse uma vez: " PELOS CAMPOS HÁ FOME - EM GRANDES PLANTAÇÕES - PELAS RUAS MARCHANDO INDECISOS CORDÕES -  AINDA FAZEM DA FLOR SEU MAIS FORTE REFRÃO - ACREDITAM NAS FLORES VENCENDO O CANHÃO."

Não dá para aceitar que um poeta assim tenha se calado...

                                                                                                               H.C          

Nenhum comentário:

Postar um comentário