terça-feira, 27 de outubro de 2015

Uma certa Irene entre amor e sombras

   Era uma Irene revolucionária que entrava nas casas pobres, alisando os cachorros que nunca vira, e eles atrás dela abanando o rabo. Francisco, o que a acompanhava, recebia dos cães a cara de mau e os dentes à mostra. Irene conversava com todos os que tinham ido ver o milagre de Evangelina. Ia à cozinha, ajudava a servir o chá, ria e, no riso, mostrava a inocência de que era feita sua alma. Os cabelos longos dançavam de um lado para o outro, não deixando de responder as perguntas que vinham da frente, do lado e detrás dela. Irene Irradiava uma aura de ternura pela humanidade, uma compaixão pelo sofrer dos outros, pela miséria de suas casas, pelo parco pão dividido. Ali ela era um deles, esquecida do luxo de sua casa que nada lhe dizia. Estava ali para realizar uma reportagem sobre a moça que se dizia operava milagres. Francisco servia de fotógrafo. Enquanto Evangelina esperava o meio dia para entrar em transe, era Irene a dona da festa, a quem falavam de seus filhos doentes, de seus maridos desempregados, todas esperando que o milagre proviesse de Evangelina e lhes salvasse a vida.
  Essa Irene, que se aventurava pela política para salvar um preso, que dormia num catre à espera de que um doente melhorasse, que desaparecia de casa para socorrer os velhos de uma casa de repouso, é o principal personagem do livro de Isabel Allende, intitulado De Amor e de Sombras. Que fala de um amor muito lindo, entre Irene e Francisco cujas vidas estavam fadadas a se unir para sempre. Apesar dos percalços.
  

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